Lisboa, 01 Fev (Lusa) - PS, PCP, BE e PEV rejeitaram hoje o voto de pesar proposto pelo deputado do PPM Pignatelli Queiroz sobre os cem anos do Regicídio e que recordava a "trágica morte" do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro.
O voto de pesar acabou, assim, por merecer apenas os votos favoráveis dos deputados do CDS-PP e da maioria da bancada social-democrata, grupos parlamentares que deram liberdade de votos aos seus parlamentares.
Sete deputados sociais-democratas, entre os quais, João Bosco Mota Amaral, Costa Neves, José Pedro Aguiar Branco, Emídio Guerreiro e Sérgio Vieira, optaram por se abster.
No período concedido aos grupos parlamentares para debater o voto de pesar, o líder da bancada socialista, Alberto Martins justificou o voto contra do PS, sublinhando que aprovar o documento seria dar "um voto contra a República".
"Não nos cabe a nós julgar as pessoas na história, fazer qualquer juízo moral sobre a história ou reescrever a história", disse Alberto Martins.
Pelo BE, o deputado Fernando Rosas recusou a possibilidade da Assembleia da ter uma "posição oficial sobre o Rei D. Carlos ou sobre o Regicídio".
"Aprovar este voto seria vincular a Assembleia da República, fazer com que os órgãos do Estado tenham uma visão oficial sobre a história", declarou o deputado do BE.
António Filipe, pelo PCP, rejeitou igualmente a hipótese dos comunistas se associarem ao voto de pesar apresentado pelo deputado do PPM Pignatelli Queiroz, que integra o grupo parlamentar do PSD, recusando qualquer "tentativa de reescrever a história" ou de "ajustar contas com o passado".
"Os factos históricos não podem ser objecto de julgamento político, que um século depois não faz qualquer sentido", acrescentou.
Pelo CDS-PP, que teve a totalidade dos seus deputados a votar favoravelmente o voto de pesar, Nuno Melo salientou a necessidade de não julgar a história.
"Votaremos com liberdade, sem julgar a história ou os factos", referiu.
O líder parlamentar do PSD, que deu igualmente liberdade de voto aos deputados da sua bancada, corroborou a ideia, considerando que "fica bem à Nação e ao povo honrar a sua história" e recordando que "a República ensina o respeito e a tolerância pela diferença".
"Devemos fazer um esforço para que a Assembleia da República, tranquila, serena, possa votar uma expressão de pesar por um chefe de Estado e o seu filho", disse, considerando que o voto favorável ao documento seria "um voto que honra a história de Portugal".
No voto de pesar apresentado por Pignatelli Queiroz D. Carlos I era recordado como um "um homem Bom, culto, um humanista, impulsionador da Ciência e das artes", "bom político, hábil diplomata" que elevou o prestígio internacional de Portugal.
"Passado um século, esfriadas as paixões, ultrapassados os problemas, vivemos num século, que se seguiu a outro século em que, cada vez mais, se proclamam os valores do Humanismo, da Paz, da Tolerância, não obstante acontecimentos contrários que todos repudiamos", é ainda referido no voto de pesar.
No voto era ainda lembrado que hoje decorrem "cem anos sobre o dia em que a Família Real, vinda de Vila Viçosa, é alvejada a tiro, ao fim da tarde, na passagem da Praça do Comércio para a rua do Arsenal. O Rei D. Carlos morre de imediato; pouco depois, com graves ferimentos, morre o Príncipe Real D. Luiz Filipe; o Infante D. Manuel sobrevive e será o último rei da IV Dinastia".
Lusa